
Depois de muito refletir sobre as questões profissionais, receio em pensar na suposta morte da Enfermagem...Onde somos o núcleo celular de uma sociedade que vive em precárias condições em todos os níveis básicos, porém, muitas vezes nem nos damos conta de nossa importância. Não a importância do custo de nossos serviços, mas a importância como profissionais e equipe.
Durante meu último ano letivo tive que palestrar diversas vezes e dessas vezes meu assunto preferido sempre era Humanização e Relacionamento Interpessoal, durante uma palestra bem prestigiada por todos, minha mentora me orientou que quando formada continuasse com meu trabalho de orientar clientes e equipes. Achei que seria fácil, que esse seria meu ideal. Hoje, já não tenho mais a certeza de antes. Diante da realidade da profissão e das pessoas desmotivadas, já não faço ouvir minha voz,mas tento!Infelizmente no final de tudo, ouço falar que ser amigo de meus técnicos não pode! Que tentar ser gentil com outrem, não pode! Que ter respeito não pode!...Até chego a pensar assim, mas não aceito que essa seja a única verdade.
E agora!? O que pode afinal?
Não ter vergonha de agir como se eu não soubesse que minha escolha implicaria em sacrifícios. Que as pessoas são incapazes de ter a reação após a ação de um sorriso. Que se eu me mostrar igual, apenas com responsabilidades diferentes de minha equipe os mesmos vão achar que podem abusar de minha boa vontade...
É! É difícil aceitar ser um profissional completo assim, parece que sempre faltará uma alfinetada para que as coisas funcionem.
Não consigo visualizar a luz no fim do túnel, o suspiro ou a vontade de viver da minha Enfermagem. Quando tenho que provar para meus colegas que sou tão boa no que faço quanto eles, mas tenho minhas limitações também. Quando ouço dos técnicos de Enfermagem que eles não têm obrigação de realizar minhas prescrições, que não são subordinados a mim. Que os médicos podem nos ver como se fossemos secretárias com nível superior e incapaz de avaliar a necessidade de instalar um acesso venoso em uma sala de emergência. Que tenho que servir de ponte para outros profissionais que morrem de medo de perguntar sobre a situação de seus pacientes. Que tenho que gerenciar um serviço onde: Se o médico não coloca o registro, se ele erra o nome do paciente, se erra a prescrição médica, se não preenche seus papéis, se não quer sair do conforto para avaliar um paciente grave... A culpa é da Enfermagem! Ufa, ainda faltam outras funções paralelas que exerço, e no final de tudo, somos meros executores de prescrições.
Não!Sou muito mais que isso, sou o coração de qualquer instituição de saúde. Não como único profissional, mas como integrante de uma equipe multidisciplinar que inconscientemente coordeno, e os mesmos nem se dão conta disso.
Haverá um dia em que cada pessoa passará pelas mãos de um enfermeiro, se o mesmo for suficientemente capaz de observar suas ações e sua importância, sua filosofia de vida mudará. Até mesmo alguns enfermeiros desavisados passarão por isso. Por enquanto, vamos levando a vida, como se o outro não fizesse parte de mim, porque no dia em que eu cair, talvez não haja alguém com quem eu possa contar.